domingo, 9 de março de 2014

O adoecer no corpo

Há muito tempo aprendi a me conhecer e a me ligar ao fato de que meu adoecer está totalmente relacionado à minha vida, a minha história, aos meus pesos emocionais e a como me sinto realmente. E hoje me descrevo assim: sufocada. É um sentimento plenamente descrito no meu corpo, falta de ar, dificuldades de respirar, nariz constantemente entupido e por aí vai.

Com toda essa somatização, não só em mim, mas no mundo todo, as prateleiras estão cheias de opções de cura, basta escolher a que você mais gostar, a mais rápida e menos indolor, formas de pagamento, etc. Tem opções para todos os gostos. Mas essa cura pra o adoecer do corpo está realmente nos remédios? Nas fórmulas mágicas que nos vendem todos os dias? Talvez sim, talvez não. O que nos ensinam é que essa tal cura do adoecer tem que ser comprada, é isso que se prega por ai. Se você não puder comprar, então padeça. Mas tenho a impressão de que quem pode comprar, também padece. E muito.

Uma resposta simples (talvez não) para essa questão é que as pessoas não se conhecem, não sabem quem são de verdade. Sabem descrever o que têm ou com o que trabalham, que marcas mais gostam, quem é fulano e cicrano (ou o que acham que sabem), mas não sabem descrever como agem, como sentem, como funcionam, como se relacionam. A meu ver, isso é bem mais importante. Talvez essa seja uma resposta bem esclarecedora para a solidão. Esta, tem detalhes infinitos, deixo-a para depois. 

A minha cura encontra-se em uma única palavra: LIBERDADE. Pois é com liberdade que se cura falta de ar. Esse sufoco, essa luta para conseguir um pouco de ar, pra preencher um pulmão que clama piedosamente para respirar aliviado. Como encontrar essa liberdade? Eis o meu maior dilema. É uma briga diária entre meus diversos “eus”. Sim, diversos. Mas eu garanto, só existe um único “eu” puro e verdadeiro. E é justamente esse que protesta pela liberdade de respirar. É um direito pelo qual se luta fielmente. Afinal, todos nós temos direitos, ou será que não? Tenho tido acessos de dúvidas.

É uma pena reconhecer a realidade de inúmeras pessoas todos os dias e se dar conta da incapacidade delas conseguirem por si só realizarem esse reconhecimento de si mesmo. Olhar para si é difícil, mais que difícil, é uma batalha que em muitos casos, se alguém não te cutucar ou disser pra você enfrentar e lutar, o seu próprio mundo se destrói e você mal se dá conta disso. Ainda há casos que a gente desiste, por ser uma luta em vão.

Mas o corpo percebe e é ele quem mais sofre com isso. A péssima notícia é que tudo se manifesta no corpo, consequentemente acontece com você, trazendo junto com as dores físicas, uma infinidade de frustrações, sofrimentos, angústias. São sentimentos plenamente humanos, mas encarados com um medo terrível, como se fosse uma doença contagiosa. Sentir-se assim é culturalmente proibido, não se pode nem falar a respeito, porque se falar pode fazer com o que o outro se depare com suas próprias angústias. E todos fogem alarmados e apavorados da doença que é ser humano. 



[Suzanne Leal]