quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dos Pesos

Os sentimentos podem pesar mais do que o próprio corpo. Às vezes pesar mais do que ar. Você respira pesado e sai por aí com um sorriso forçado. Os olhos se fecham e o corpo também. Não há dia, nem cor. A alma se fecha para o mundo, senta e espera novamente aquela respiração ao pé do ouvido, aquelas palavras uma vez ditas, um jeito que só sabia Ser e nada mais. Tudo isto se perdeu, em algum lugar, talvez por erro meu. Eu não sei.

Tentei levar para longe dos olhos, queimar, apagar, enterrar, deixar tudo o mais longe possível. Mas a marca continua em minha alma, impregnada, atordoando e entorpecendo meu pensamento, fazendo das noites mal dormidas, um corpo cansado a carregar-se pelo dia. Não é longe dos olhos, é longe da alma. Um caminho de labirintos e enigmas, difíceis de decifrar, sair, fugir. É uma merda que paralisa a sua vida mais do que qualquer outra coisa. Tá, estou abrindo espaço para xingamentos.


Você sofre pressão e falsa compreensão. Ninguém quer entender realmente. É melhor enterrar dentro de si o que só a própria alma sabe discernir e entender. Só ainda não consigo aceitar toda essa bagunça, esse caminho devastado, todos os enganos e os falsos sussurros. O colapso será breve e eu sei que será o único momento que realmente poderei libertar a minha alma. Não espero mais compreensão. De um jeito ou de outro, ninguém me conhece realmente. Quem eu me deixei conhecer, só me trouxe mais pesos. E tudo que você deseja, é não se importar mais.

É isso. Descartar uma mentira inventada é fácil. Difícil é arcar com o peso da falsa verdade. Sou eu que terei que carregá-la nos meus dias e suportá-la nas minhas noites. Cansei dessas desculpas e pretextos. Quem sabe eu devesse atirá-las sem clemência, machucar como fui machucada. Mas talvez a minha distância seja a melhor cartada. Não pra mim, eu sei. Que se foda.








[Suzanne Leal]

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Da bobagem que eu fui

Hoje eu sei que fui apenas uma bobagem. Hoje, ontem, talvez amanhã. Talvez amanhã já não seja mais nada ou nunca tenha sido nada. Perceber que tudo foi um mero equívoco, um arrependimento, um erro pra se repensar, pra se apagar. Uma insignificância que não teve uma recíproca verdadeira. Uma oportunidade eternamente perdida. Cada palavra não dita, ignorada, era uma dor nova. Fui boba. 

Sentir-se boba faz a gente sentir um ódio de si mesma. E mil questionamentos atormentam o pensamento: como pude acreditar? Mas todas as evidências me mostravam o erro do meu pensamento. Só depois, quando a dor bate forte, tudo fica claro e evidente. E o ciclo se repete: boba, mais uma vez. Chamar de boba é pegar leve, utilizemos um adjetivo mais adequado: burra. Esse se encaixa melhor.


A verdade é que, eu esperei por isso a vida inteira, como jamais pensei que um dia pudesse ser real. E de fato não foi. Apenas pra mim, era real, era vivo, era intenso, era calmo, era terno, era amor. Acho que criei um mundo de fantasia, em que somente eu estava vivendo nele. E numa solidão compartilhada, eu me permiti ao amor que eu pensava existir, compartilhei o presente e os desejos futuros. Era tudo engano. Erro do coração. O coração é bobo, se deixa enganar facilmente. Descobrimos de novo e de novo e de novo o que a gente já sabia: era tudo um engano. E a gente começa a implorar por um botãozinho que desligue todos os sentimentos.

Era mentira, eu sei. Agora eu sei. Mas a minha alma nunca mentiu e se entregou como se nada mais pudesse impedir, sem medo, sem questionamento, sem julgamento, liberta de qualquer sentimento ruim. Cada nascer do dia se tornava vívido e significativo.  E você começa se sentir disposta a tudo, a abandonar o passado, a rotina diária, os fatos e as pessoas que deixam sua vida mais pesada. A vida se torna passível para um recomeço. Não era bem assim.

A não reciprocidade faz o mundo inteiro desmoronar. O presente é doloroso e o futuro parece impossível. Toda aquela leveza arruinada. É difícil enxergar e imaginar a vida tornar-se leve novamente, tão difícil, que só imagino um futuro impossível. Os medos, as fraquezas, todas usadas como desculpas para fingir o que não havia sido. E você se dá conta do quanto está calejada quando se percebe implorando por migalhas. Já passou da hora de desistir. Transbordou. 

Levantar, recomeçar, limpar o sangramento e cicatrizar as feridas, é um trabalho árduo, desgastante, sufocante. Não quero mais ter esse trabalho. Vou seguindo, do jeito que der. E se não der, que seja. Procurar possibilidades se tornou desgastante. 

E num filme que se repete incessantemente na minha mente, dolorido e amargurado, posso dizer que era de verdade, eu bem sei, e, por ser assim, eu digo: como às vezes podemos ser tão estúpidos. Não é uma pergunta, é uma afirmação.





[Suzanne Leal]

Das dores que a gente sente

A dor é algo que vez ou outra faz reboliço na nossa vida. Causa angústia, nos fecha pra o mundo, desanima, desencoraja, deprime e nos afunda em um mar de solidão, profundo e escuro. A dor emocional às vezes é tão intensa que parece estar te devorando vivo, corroendo as suas veias, destruindo e sufocando a alma. Dá vontade de gritar, correr, socar, fugir pra qualquer canto, mesmo com a ilusão de que ela não está dentro da gente, que está fora e irá ficar quando não estivermos mais aqui.


Quando a dor se torna rotina, os pensamentos angustiantes e acelerados se tornam um ciclo vicioso para a sua mente. A necessidade de fugir é cada vez maior. O colapso parece estar mais próximo. Os dias passam arrastados, as noites pesadas são suportadas em claro. A vida passa e o pensamento não te deixa enxergar o mundo inteiro que existe lá fora, por trás dos muros que construímos e os tornamos cada vez mais altos. Cada lágrima, cada recusa, cada pensamento doloroso, um tijolo a mais. E assim, pouco a pouco, mais difícil fica avistar o outro lado, mais difícil fica quebrar, pular, sair. A vida não espera. Você não vive e morre solitário, envolto numa gaiola que você mesmo construiu.

Tudo é sentido em dobro, mais forte, mais intenso. Não há momento, não há remédio que cure. Às vezes a dor emocional é tão forte, que é preciso sentir dor física pra amenizar. E assim a gente tem vontade de matar os sentimentos e o vazio que eles causam. 

Os momentos fogem, escapam entre os dedos. E então a vida te devora, num passo tão rápido que num piscar de olhos já acabou.




[Suzanne Leal]

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O esquecimento

Diante de caminhos tortuosos precisamos fazer escolhas difíceis e árduas. Não sei se é uma escolha que exige coragem, talvez seja, talvez não. Eu não sei. Não quero mais me explicar ou pensar. Não quero mais cobranças, pressões, falta de ar. Vou seguir, anestesiada, pra onde a vida tem me empurrado.

Não sou sobrou amor, nem cor. Como posso seguir em frente? Às vezes seguir em frente requer uma escolha mais dura. Talvez seja acatar àquilo que o pensamento tanto insiste em mostrar, em repetir, seguidamente, sem parar. E é nesse momento que eu me rendo, cercada por meus pensamentos, encosto-me às sombras e me agasalho com a mão solitária e pesada da noite. 

Não me resta mais a espera, nem a fé, nem a esperança. Perdi a minha crença, o que eu vejo ou que eu sinto, já deixou de fazer sentido há muito tempo. Percebi que há um longo tempo me disfarço, nessa moldura fingida tenho caminhado. Eu sei, bem no fundo, que é tudo fingimento. Toda a minha falsa compreensão com a vida, dissimulada em feições e movimentos representativos. Nunca fui eu. Como eu já sei, eu não sou deste mundo.

Passei muito tempo tentando me livrar de toda essa natureza escura que se envolta em minha alma. Levou dias e noites quase eternos, até perceber que a essa natureza escura não vinha de fora, mas sim de dentro. Esta sou eu. E assim decidi entregar-me a minha essência, porque quem vos fala é cheia de intensos espinhos. 

O meu erro de nascimento foi nascer com uma capacidade absurda de sentir intensamente e densamente. Atestado e aprovado pelo meu próprio Ser, experimentado dia a dia, cada intenso sentimento que percorreu profundamente a minha pele e se acumulou no meu peito. 

Mas eu enterrei meu último fio de sentimento sob a terra. Sobrou amor? Por uma reciprocidade, talvez. Fora isso, não sobrou mais nada. A terra há de corroer e fazer dissipar em esquecimento. Não quero mais pensar ou me explicar.


[Suzanne Leal]





♫ Radiohead - The Daily Mail 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

É bem assim mesmo

Descreve o meu Eu hoje:

"E no meio dessa angustia toda, eu fico aqui escolhendo as palavras que digam subjetivamente tudo aquilo que eu não tenho coragem de assumir pra mim mesmo. Desde a hora que acordo e caço o celular numa esperança fútil de um “bom dia”, ou no contar das horas que atualizo desesperadamente as redes, e verifico exaustivamente as notificações, na esperança de uma migalha de atenção. 

Eis que se passam os dias, as semanas, sei lá, lá se vai mais um ano e eu fiquei aqui, nessa mesma esperança tola de assumir um amor, uma paixão, um rosto que sorrisse de volta pra mim. Deus sabe lá quantas vezes eu já achei que tivesse encontrado o amor da minha vida, e na manhã seguinte: nada.

Tenho dessas de me aventurar, de me perder, de deixar farelos de pão, de deixar um rastro, de criar uma trilha pra ver se alguém, se algum viajante tão desnorteado quanto eu, resolva seguir, e assim, como quem não quer nada, me encontrar. Acho que li isso em algum conto de fadas, ao menos lá funcionava. Eu sei, fui idiota o suficiente pra deixar de lado toda a minha maturidade e idade adulta por uma fantasia. Por uma história que eu queria que fosse minha, e sabe Deus o quanto eu quis que desse certo.

Agora, revirando esse baú de pensamentos e escolhendo as palavras que digam subjetivamente tudo aquilo que eu não tenho coragem de assumir pra mim mesmo, percebi que o maior culpado de todas as histórias não terem dado certo, fui eu. Isso é o que acontece com quem está sempre disponível. Com quem tá sempre disposto a tentar mais uma vez. Com quem dá sempre a cara pra baterem, na esperança que desistam do tapa, ou, que, pelo menos, doa menos.

É hora de aceitar o inaceitável: eu sempre quis me apaixonar por alguém como você. Talvez um você ainda sem nome, mas que já aparece nos meus sonhos. É hora de abrir os olhos e aceitar que talvez esse alguém nunca leia todos os bilhetes nas garrafas que já lancei ao mar. Ou talvez não apareça graças a aquelas moedas que joguei na fonte, ou através do sopro das minhas velas de aniversário, dos pedidos feitos pras estrelas cadentes. Que, na verdade, nem são estrelas.

Preciso crescer, é isso. Um crescer tão maduro que não dependa mais de uma metade da laranja, ou que, pelo menos não precise mais procurar em pomar nenhum, essas coisas que a gente encontre nas prateleiras dos supermercados de bandeja. Ao contrário dos contos de fada, a vida real é extremamente mais cruel. Aqui, onde o faz de conta não tem vez, os vilões são muito mais perigosos, os mocinhos muito menos interessantes e mais cafajestes, as princesas dormem de touca e usam enchimento, e nos bailes reais, o máximo que a gente consegue encontrar, são comandas caras, copo cheios e pessoas, ah, as pessoas, cada vez mais sozinhas."



 (Matheus Rocha)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Das esperas.


Esperei o dia inteiro, o dia inteirinho, qualquer sopro que viesse da sua voz, da sua não intenção de nada, do seu nem ligar. Eu esperei. E fique só. O mundo inteiro ao meu redor e a solidão me comendo vida. Só um sopro, eu só precisava de um. Pela janela, viesse qualquer não intenção que fosse, um pequeno pedaço de não querer. Eu respirei fundo de tamanho pesar que tudo ao redor se encolheu, de tão apertado que ficou o meu mundo.

Esperei o coração pulsar, acalentando e acalmando a respiração pesada. Esperei como se não fosse mais viver, como se fosse à última coisa a esperar na vida. Esperei como quem espera a vitória do dia mais glorioso. Esperei pelas palavras não ditas, escritas com o toque da alma, com a pureza que só almas sabem enxergar. Esperei o doce, o abraço, o verdadeiro, o tão esperado.

Esperei com as mãos apoiando o queixo, segurando as expressões inquietas do meu rosto, que se confessava intenso e inquieto. Cada segundo de olhar atento era eterno. O eterno olhar pra dentro de si, que toca a dor que causa tragédia aos corações humanos. Uma espera que calejou a minha alma. Em meu próprio ser eu me envolvi, abraçando o próprio corpo, pra que dentro de mim essa espera não tivesse um olhar tão duro e árduo. Abrandar-me era quase impossível.

Espera tola e estúpida.





[Suzanne Leal]

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Das indiretas

As indiretas são como veneno, tomado por quem envia e por quem recebe. A indireta é algo tão pequeno e mesquinho, uma enganação de si próprio. Faz você achar que está por cima, quando na realidade, está mais por baixo do que pra quem a enviou. A indireta faz de você um egoísta, porque tudo que você quer é magoar. Faz disso um artifício fingido para se sentir melhor. Muitas vezes quem a recebe, sente-se a pessoa mais insignificante, como se nada tivesse valido a pena. A indireta é mesquinha, chula e árida. Corrói quem a envia, magoa quem a recebe. Não faz bem a ninguém, mas muitos insistem em usá-la.

E assim as relações se perdem, magoadas e feridas, separam-se bruscamente, acompanhadas pelas apunhaladas que as indiretas causam. Machucam a alma e enevoam o nosso ser, fazendo de nós seres pequenos, perdendo a estima e se distanciando da capacidade de amar. Atingem a alma e o coração, caem em nossas cabeças sem a leveza de uma gota de chuva.

As indiretas destroem o amor e tudo que havia de mais belo nas relações. É algo amargo. A amargura corrói como ácido. É árido e seco. Quem as envia se ilude, acerta o outro, mas também acerta em cheio a si mesmo. A indireta é um engano que se esqueceu de se acertar. São palavras erradas, ditas por corações amargurados e almas dolentes. Palavras tortuosas que se desviam do verdadeiro, do puro e do sereno, moldando a mesquinhez. Não se iluda, você que está atirando indiretas ao vento, como flechas ao alvo, está expondo o que há de mais ridículo em si próprio, destruindo talvez o que poderia ter sido de mais belo na sua vida ou mesmo germinando corações amargos.





[Suzanne Leal]