“O tempo não apaga tudo, alguns instantes permanecem intactos na
memória, sem que se saiba por que uns e não outros. Talvez sejam confidências
sutis que a vida nos fornece, em silêncio.”
Freqüentemente
tenho escutado frases como "dê tempo ao tempo" ou "o tempo cura
tudo", frases ditas quando não se está disposto a encarar o desafio de
vencer a si mesmo. Frases ditas por um amigo que não está disponível para
escutá-lo de verdade. E muitas vezes, é assim que encaramos, deixamos que o
“tempo magicamente resolva”. Mas o tempo passa e ele não resolve.
Depois de um
tempo, você percebe que as feridas, as falhas, as mágoas, as angústias continuam
lá, em sua mente, repetindo como em um filme, às vezes vagarosamente e um pouco
embaçado, e às vezes forte e nítido como se estivesse vivendo novamente. E de
fato está, pois revivemos os fatos no pensamento cotidianamente, nunca da mesma
forma, sempre com um detalhe novo, uma vida ou alegria nova ou uma ferida que
dilacera sua alma e seu peito como se fosse morrer.
Nesses
momentos, desejamos morrer de verdade, mas não uma morte real, mas uma morte
virtual, aquela que mata somente a nossa dor, que nos faz reviver, que te faz
magicamente renascer pra uma nova vida, com a ilusão de que a angústia tenha
ido e nunca mais volte.
Mas ela volta,
enquanto não a encararmos, enquanto não a enfrentarmos com todas as nossas
forças e vontade, ela irá voltar, como um fantasma que assombra os pensamentos
quando se está sozinho. Não reconhecemos que esse tempo que achamos ser a chave
da cura dos nossos problemas, é um tempo valioso, que desperdiçamos esperando e
esperando.
Não faz
sentido? Façamos o teste, lembre-se de sua vida há dez anos, relembre tudo
àquilo que desejava que mudasse. Mudou? Então ótimo! Você é um vencedor que
conseguiu lidar com suas maiores adversidades. Se não mudou, você é só mais um
sentado na cadeira do destino, adiando e adiando, e você não está sozinho,
existem milhares ao seu lado.
Precisamos
resolver dentro de si aquilo que é mais assustador, sem “empurrar pra debaixo
do tapete”, sem deixar que o tempo resolva (pois ele não resolve, quem resolve
é você). Precisamos encarar nossas sombras, reconhecer nossos anseios e
dificuldades. Pode-se até fingir, mas estará em nosso inconsciente, espreitando,
sussurrando como se tivéssemos uma grande culpa, transmitindo significados
manifestos e encobertos. E é preciso ser resolvido tão logo quanto possamos,
antes que se enraíze, antes que percorra as nossas veias, antes que adoeça
nosso corpo (pois é nele que se manifestam nossas emoções), antes que cheguem o
arrependimento e a morte.