terça-feira, 27 de maio de 2014

Da solidão que vem de dentro.

Pelos corredores ela segue o próprio olhar, inquieta, com todo aquele turbilhão de coisas que percorre dentro de si. Ela não pára, ela deseja, ela procura e só encontra a própria sombra. Por dentro é um mundo inteiro. Um mundo estremecido, barulhento, avassalador. Abalado pelos desejos inacabados, infindos, segue sem repouso, com passos pesados e dolentes. 

Intermináveis prédios sem alicerce, sem cobertura, sem proteção. É nisto que se perde o seu olhar. A sombra que a habita espera apreensiva pela brecha de escape. Só o que se escuta são passos apressados, conversas vazias perdidas nas palavras e nos olhares fingidos. E a solidão reinava com seus olhos grandes devorando-a sem dó. 

Talvez ela já se acostumara a aquele silêncio barulhento. Mas no fundo ela sabia que queria mais, sabia que queria atravessar a brecha, sabia da angústia que a consumiria perto do fim. Aquela angústia que espera sem pressa, calmamente, como quem quer abocanhar a sua presa. A angústia sabia da solidão que a permeava. E assim ela vigiava à espera do seu bote.

Ensimesmada, ela desejava. Em suas idas e vindas, não se libertava. O olhar da vida no espelho era realista, enxergava o falso tempo, que balançava a sua alma como um pêndulo, desencorajando um novo tempo. Era como enxergar sua alma solitária parada no tempo, presa pelas próprias sombras.  

Eram vidas, eram histórias, era um mundo inteiro que ela carregava dentro de si. Um mundo jamais conhecido por outros olhos. A solidão no olhar do outro é assustadora, todos fogem alarmados. E era com um sorriso forçado que se apresentava, fingindo um Ser que não era seu. 

E de olhos cerrados ela seguia, escutando a densa solidão que lhe habitava.









[Suzanne Leal]