quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dos Pesos

Os sentimentos podem pesar mais do que o próprio corpo. Às vezes pesar mais do que ar. Você respira pesado e sai por aí com um sorriso forçado. Os olhos se fecham e o corpo também. Não há dia, nem cor. A alma se fecha para o mundo, senta e espera novamente aquela respiração ao pé do ouvido, aquelas palavras uma vez ditas, um jeito que só sabia Ser e nada mais. Tudo isto se perdeu, em algum lugar, talvez por erro meu. Eu não sei.

Tentei levar para longe dos olhos, queimar, apagar, enterrar, deixar tudo o mais longe possível. Mas a marca continua em minha alma, impregnada, atordoando e entorpecendo meu pensamento, fazendo das noites mal dormidas, um corpo cansado a carregar-se pelo dia. Não é longe dos olhos, é longe da alma. Um caminho de labirintos e enigmas, difíceis de decifrar, sair, fugir. É uma merda que paralisa a sua vida mais do que qualquer outra coisa. Tá, estou abrindo espaço para xingamentos.


Você sofre pressão e falsa compreensão. Ninguém quer entender realmente. É melhor enterrar dentro de si o que só a própria alma sabe discernir e entender. Só ainda não consigo aceitar toda essa bagunça, esse caminho devastado, todos os enganos e os falsos sussurros. O colapso será breve e eu sei que será o único momento que realmente poderei libertar a minha alma. Não espero mais compreensão. De um jeito ou de outro, ninguém me conhece realmente. Quem eu me deixei conhecer, só me trouxe mais pesos. E tudo que você deseja, é não se importar mais.

É isso. Descartar uma mentira inventada é fácil. Difícil é arcar com o peso da falsa verdade. Sou eu que terei que carregá-la nos meus dias e suportá-la nas minhas noites. Cansei dessas desculpas e pretextos. Quem sabe eu devesse atirá-las sem clemência, machucar como fui machucada. Mas talvez a minha distância seja a melhor cartada. Não pra mim, eu sei. Que se foda.








[Suzanne Leal]

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Da bobagem que eu fui

Hoje eu sei que fui apenas uma bobagem. Hoje, ontem, talvez amanhã. Talvez amanhã já não seja mais nada ou nunca tenha sido nada. Perceber que tudo foi um mero equívoco, um arrependimento, um erro pra se repensar, pra se apagar. Uma insignificância que não teve uma recíproca verdadeira. Uma oportunidade eternamente perdida. Cada palavra não dita, ignorada, era uma dor nova. Fui boba. 

Sentir-se boba faz a gente sentir um ódio de si mesma. E mil questionamentos atormentam o pensamento: como pude acreditar? Mas todas as evidências me mostravam o erro do meu pensamento. Só depois, quando a dor bate forte, tudo fica claro e evidente. E o ciclo se repete: boba, mais uma vez. Chamar de boba é pegar leve, utilizemos um adjetivo mais adequado: burra. Esse se encaixa melhor.


A verdade é que, eu esperei por isso a vida inteira, como jamais pensei que um dia pudesse ser real. E de fato não foi. Apenas pra mim, era real, era vivo, era intenso, era calmo, era terno, era amor. Acho que criei um mundo de fantasia, em que somente eu estava vivendo nele. E numa solidão compartilhada, eu me permiti ao amor que eu pensava existir, compartilhei o presente e os desejos futuros. Era tudo engano. Erro do coração. O coração é bobo, se deixa enganar facilmente. Descobrimos de novo e de novo e de novo o que a gente já sabia: era tudo um engano. E a gente começa a implorar por um botãozinho que desligue todos os sentimentos.

Era mentira, eu sei. Agora eu sei. Mas a minha alma nunca mentiu e se entregou como se nada mais pudesse impedir, sem medo, sem questionamento, sem julgamento, liberta de qualquer sentimento ruim. Cada nascer do dia se tornava vívido e significativo.  E você começa se sentir disposta a tudo, a abandonar o passado, a rotina diária, os fatos e as pessoas que deixam sua vida mais pesada. A vida se torna passível para um recomeço. Não era bem assim.

A não reciprocidade faz o mundo inteiro desmoronar. O presente é doloroso e o futuro parece impossível. Toda aquela leveza arruinada. É difícil enxergar e imaginar a vida tornar-se leve novamente, tão difícil, que só imagino um futuro impossível. Os medos, as fraquezas, todas usadas como desculpas para fingir o que não havia sido. E você se dá conta do quanto está calejada quando se percebe implorando por migalhas. Já passou da hora de desistir. Transbordou. 

Levantar, recomeçar, limpar o sangramento e cicatrizar as feridas, é um trabalho árduo, desgastante, sufocante. Não quero mais ter esse trabalho. Vou seguindo, do jeito que der. E se não der, que seja. Procurar possibilidades se tornou desgastante. 

E num filme que se repete incessantemente na minha mente, dolorido e amargurado, posso dizer que era de verdade, eu bem sei, e, por ser assim, eu digo: como às vezes podemos ser tão estúpidos. Não é uma pergunta, é uma afirmação.





[Suzanne Leal]

Das dores que a gente sente

A dor é algo que vez ou outra faz reboliço na nossa vida. Causa angústia, nos fecha pra o mundo, desanima, desencoraja, deprime e nos afunda em um mar de solidão, profundo e escuro. A dor emocional às vezes é tão intensa que parece estar te devorando vivo, corroendo as suas veias, destruindo e sufocando a alma. Dá vontade de gritar, correr, socar, fugir pra qualquer canto, mesmo com a ilusão de que ela não está dentro da gente, que está fora e irá ficar quando não estivermos mais aqui.


Quando a dor se torna rotina, os pensamentos angustiantes e acelerados se tornam um ciclo vicioso para a sua mente. A necessidade de fugir é cada vez maior. O colapso parece estar mais próximo. Os dias passam arrastados, as noites pesadas são suportadas em claro. A vida passa e o pensamento não te deixa enxergar o mundo inteiro que existe lá fora, por trás dos muros que construímos e os tornamos cada vez mais altos. Cada lágrima, cada recusa, cada pensamento doloroso, um tijolo a mais. E assim, pouco a pouco, mais difícil fica avistar o outro lado, mais difícil fica quebrar, pular, sair. A vida não espera. Você não vive e morre solitário, envolto numa gaiola que você mesmo construiu.

Tudo é sentido em dobro, mais forte, mais intenso. Não há momento, não há remédio que cure. Às vezes a dor emocional é tão forte, que é preciso sentir dor física pra amenizar. E assim a gente tem vontade de matar os sentimentos e o vazio que eles causam. 

Os momentos fogem, escapam entre os dedos. E então a vida te devora, num passo tão rápido que num piscar de olhos já acabou.




[Suzanne Leal]

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O esquecimento

Diante de caminhos tortuosos precisamos fazer escolhas difíceis e árduas. Não sei se é uma escolha que exige coragem, talvez seja, talvez não. Eu não sei. Não quero mais me explicar ou pensar. Não quero mais cobranças, pressões, falta de ar. Vou seguir, anestesiada, pra onde a vida tem me empurrado.

Não sou sobrou amor, nem cor. Como posso seguir em frente? Às vezes seguir em frente requer uma escolha mais dura. Talvez seja acatar àquilo que o pensamento tanto insiste em mostrar, em repetir, seguidamente, sem parar. E é nesse momento que eu me rendo, cercada por meus pensamentos, encosto-me às sombras e me agasalho com a mão solitária e pesada da noite. 

Não me resta mais a espera, nem a fé, nem a esperança. Perdi a minha crença, o que eu vejo ou que eu sinto, já deixou de fazer sentido há muito tempo. Percebi que há um longo tempo me disfarço, nessa moldura fingida tenho caminhado. Eu sei, bem no fundo, que é tudo fingimento. Toda a minha falsa compreensão com a vida, dissimulada em feições e movimentos representativos. Nunca fui eu. Como eu já sei, eu não sou deste mundo.

Passei muito tempo tentando me livrar de toda essa natureza escura que se envolta em minha alma. Levou dias e noites quase eternos, até perceber que a essa natureza escura não vinha de fora, mas sim de dentro. Esta sou eu. E assim decidi entregar-me a minha essência, porque quem vos fala é cheia de intensos espinhos. 

O meu erro de nascimento foi nascer com uma capacidade absurda de sentir intensamente e densamente. Atestado e aprovado pelo meu próprio Ser, experimentado dia a dia, cada intenso sentimento que percorreu profundamente a minha pele e se acumulou no meu peito. 

Mas eu enterrei meu último fio de sentimento sob a terra. Sobrou amor? Por uma reciprocidade, talvez. Fora isso, não sobrou mais nada. A terra há de corroer e fazer dissipar em esquecimento. Não quero mais pensar ou me explicar.


[Suzanne Leal]





♫ Radiohead - The Daily Mail 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

É bem assim mesmo

Descreve o meu Eu hoje:

"E no meio dessa angustia toda, eu fico aqui escolhendo as palavras que digam subjetivamente tudo aquilo que eu não tenho coragem de assumir pra mim mesmo. Desde a hora que acordo e caço o celular numa esperança fútil de um “bom dia”, ou no contar das horas que atualizo desesperadamente as redes, e verifico exaustivamente as notificações, na esperança de uma migalha de atenção. 

Eis que se passam os dias, as semanas, sei lá, lá se vai mais um ano e eu fiquei aqui, nessa mesma esperança tola de assumir um amor, uma paixão, um rosto que sorrisse de volta pra mim. Deus sabe lá quantas vezes eu já achei que tivesse encontrado o amor da minha vida, e na manhã seguinte: nada.

Tenho dessas de me aventurar, de me perder, de deixar farelos de pão, de deixar um rastro, de criar uma trilha pra ver se alguém, se algum viajante tão desnorteado quanto eu, resolva seguir, e assim, como quem não quer nada, me encontrar. Acho que li isso em algum conto de fadas, ao menos lá funcionava. Eu sei, fui idiota o suficiente pra deixar de lado toda a minha maturidade e idade adulta por uma fantasia. Por uma história que eu queria que fosse minha, e sabe Deus o quanto eu quis que desse certo.

Agora, revirando esse baú de pensamentos e escolhendo as palavras que digam subjetivamente tudo aquilo que eu não tenho coragem de assumir pra mim mesmo, percebi que o maior culpado de todas as histórias não terem dado certo, fui eu. Isso é o que acontece com quem está sempre disponível. Com quem tá sempre disposto a tentar mais uma vez. Com quem dá sempre a cara pra baterem, na esperança que desistam do tapa, ou, que, pelo menos, doa menos.

É hora de aceitar o inaceitável: eu sempre quis me apaixonar por alguém como você. Talvez um você ainda sem nome, mas que já aparece nos meus sonhos. É hora de abrir os olhos e aceitar que talvez esse alguém nunca leia todos os bilhetes nas garrafas que já lancei ao mar. Ou talvez não apareça graças a aquelas moedas que joguei na fonte, ou através do sopro das minhas velas de aniversário, dos pedidos feitos pras estrelas cadentes. Que, na verdade, nem são estrelas.

Preciso crescer, é isso. Um crescer tão maduro que não dependa mais de uma metade da laranja, ou que, pelo menos não precise mais procurar em pomar nenhum, essas coisas que a gente encontre nas prateleiras dos supermercados de bandeja. Ao contrário dos contos de fada, a vida real é extremamente mais cruel. Aqui, onde o faz de conta não tem vez, os vilões são muito mais perigosos, os mocinhos muito menos interessantes e mais cafajestes, as princesas dormem de touca e usam enchimento, e nos bailes reais, o máximo que a gente consegue encontrar, são comandas caras, copo cheios e pessoas, ah, as pessoas, cada vez mais sozinhas."



 (Matheus Rocha)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Das esperas.


Esperei o dia inteiro, o dia inteirinho, qualquer sopro que viesse da sua voz, da sua não intenção de nada, do seu nem ligar. Eu esperei. E fique só. O mundo inteiro ao meu redor e a solidão me comendo vida. Só um sopro, eu só precisava de um. Pela janela, viesse qualquer não intenção que fosse, um pequeno pedaço de não querer. Eu respirei fundo de tamanho pesar que tudo ao redor se encolheu, de tão apertado que ficou o meu mundo.

Esperei o coração pulsar, acalentando e acalmando a respiração pesada. Esperei como se não fosse mais viver, como se fosse à última coisa a esperar na vida. Esperei como quem espera a vitória do dia mais glorioso. Esperei pelas palavras não ditas, escritas com o toque da alma, com a pureza que só almas sabem enxergar. Esperei o doce, o abraço, o verdadeiro, o tão esperado.

Esperei com as mãos apoiando o queixo, segurando as expressões inquietas do meu rosto, que se confessava intenso e inquieto. Cada segundo de olhar atento era eterno. O eterno olhar pra dentro de si, que toca a dor que causa tragédia aos corações humanos. Uma espera que calejou a minha alma. Em meu próprio ser eu me envolvi, abraçando o próprio corpo, pra que dentro de mim essa espera não tivesse um olhar tão duro e árduo. Abrandar-me era quase impossível.

Espera tola e estúpida.





[Suzanne Leal]

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Das indiretas

As indiretas são como veneno, tomado por quem envia e por quem recebe. A indireta é algo tão pequeno e mesquinho, uma enganação de si próprio. Faz você achar que está por cima, quando na realidade, está mais por baixo do que pra quem a enviou. A indireta faz de você um egoísta, porque tudo que você quer é magoar. Faz disso um artifício fingido para se sentir melhor. Muitas vezes quem a recebe, sente-se a pessoa mais insignificante, como se nada tivesse valido a pena. A indireta é mesquinha, chula e árida. Corrói quem a envia, magoa quem a recebe. Não faz bem a ninguém, mas muitos insistem em usá-la.

E assim as relações se perdem, magoadas e feridas, separam-se bruscamente, acompanhadas pelas apunhaladas que as indiretas causam. Machucam a alma e enevoam o nosso ser, fazendo de nós seres pequenos, perdendo a estima e se distanciando da capacidade de amar. Atingem a alma e o coração, caem em nossas cabeças sem a leveza de uma gota de chuva.

As indiretas destroem o amor e tudo que havia de mais belo nas relações. É algo amargo. A amargura corrói como ácido. É árido e seco. Quem as envia se ilude, acerta o outro, mas também acerta em cheio a si mesmo. A indireta é um engano que se esqueceu de se acertar. São palavras erradas, ditas por corações amargurados e almas dolentes. Palavras tortuosas que se desviam do verdadeiro, do puro e do sereno, moldando a mesquinhez. Não se iluda, você que está atirando indiretas ao vento, como flechas ao alvo, está expondo o que há de mais ridículo em si próprio, destruindo talvez o que poderia ter sido de mais belo na sua vida ou mesmo germinando corações amargos.





[Suzanne Leal] 

domingo, 29 de setembro de 2013

Cárcere

Perdi-me nas entrelinhas que permeavam o desejo e a realidade.

Quando o sentimento se torna um cárcere de si mesmo e folhas em branco se tornam a minha história, torna-se uma passagem brusca pela vida, tão demorada em acontecer, tão rápida em se esvair. Quando o peso das frustrações se acumula nos ombros, o mundo vai ficando desinteressante, vazio, sem sentido e o único pensamento que vem a mente é desistir, conformar-se, aceitar que seus sonhos eram só sonhos, que seus ideais eram mera bobagem e que seus esforços se tornaram em vão contra as forças da vida. Quando você sente que a força que move o mundo externo sempre foi maior que a força que move o mundo interno, lutar é em vão, é morrer dentro de si.


Eu tive um sonho que dizia que todas as coisas do mundo passavam e como era um alívio não sentir mais.







De todas as indecisões, adversidades e contratempos, acho que a melhor solução até agora é o: foda-se!



[Suzanne Leal]

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Escrever é viver eternamente

Algumas coisas não servem mais. Outras dão vontade de abraçar de novo. Mas já está desfeito. Já está no impossível. Já está calejado. Já foi. O agora é agora. Daqui pra frente, só te espero, te respiro, recolho fantasias e as guardo, por enquanto. E então, me admiro, me encanto, me volto para dentro, desejando imensamente. Se eu não for vista, bem, eu tentei, eu acho. Talvez não o suficiente, talvez nunca seja. Nunca. Pra sempre. Eu não sei.

Destino, cá entre nós, acho que você precisa de um conserto. Onde posso comprar peças novas? Consertar, encaixar, pôr nos eixos, você sabe, andar bem, tudo conforme a trilha da Vida, com uma boa música para acompanhar, essas coisas.

Vá embora daqui pensamento. Se não me faz bem. Então pare de me fazer mal. Já cumpri minha parte do acordo. Quando vai cumprir a sua?

As pessoas esperam algo de nós e exigem que as perdoemos. Mas quando precisamos do mesmo, elas se recusam a nos dar. E nos condenam eternamente. Eu bem sei, todos esses anos, o esforço que me fiz, os sonhos que abandonei, as vidas que deixei passar. Eu bem sei, a dor que me causou, a amargura que me trouxe, o gelo que me tornei, o medo que se juntou a mim, todo a minha guerra pra não me deixar sufocar. Eu bem sei, mas talvez não quisesse saber. Te exigem compreensão, perdão, abdicação, te exigem tudo. E quando você precisa, você não tem, simplesmente não tem.

Meus olhos estão pesados. Parecem estar empoeirados, cansados, como se não tivessem dormido. Mas eles dormiram. Só demoram, mas dormiram. Não um sono bom, mas dormiram. Olhos, mostram o que está marcado na minha alma.

De cada dia começar um pedacinho. Recomeçar se for preciso. De cada dia, um cheiro novo, um sabor novo. De cada dia, com calma, procurando a paz, sem exigir tanto. De cada dia, deixar fluir, nem que seja só um pouco, erguer o corpo, olhar ao redor. De cada dia, acordar, ficar de pé, continuar, e se doer, deixa doer, não se desespere, seque cada lágrima, acredite, a dor ameniza, alivia, mesmo que ela volte, o alívio também volta. De cada dia, se permitir, um evento novo, um sorriso novo, reviva se for preciso, você vai sentir tanto, mas não se lamente, há coisas maiores lá fora, olhe depois dos muros, você vai ver. De cada dia um novo aprendizado, deixe seu espírito sentir a vida, ele vai se refletir externamente, nos seu rosto, nos seus olhos, na sua pele, ele vai dizer quem você é de verdade. De cada dia, um novo passo, um novo momento, porque nada se vive duas vezes, nem nas memórias. De cada dia, o momento agora é o que vale, construir uma história, ter vidas inteiras pra contar. Ser destemida.

Mais que tudo, que já passou, que ainda é, que não é mais, que ainda vai ser... eu só quero ir.

E no fim de tudo, eu só desejo paz de espírito.

Escrever é viver eternamente.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Um dia, talvez.

Eu vou dormir. De manhã, as coisas se prometem novamente. Eu vou acordar com você grudado no meu pé. Os rituais me prometeram isso.

Fingir não se importar pode dar certo. Ou pode te afastar pra sempre daquilo que você mais queria.

Você tenta ser paciente. Conviver com você mesma. Tenta segurar a barra. Mas depois das 10h da noite, meu bem, a angústia te devora sem piedade.

Esta noite faz um silêncio tão desnecessário. Nem o vento, nem as vozes, nem a chuva, nada, só o silêncio. Um silêncio que inquieta, que formiga, exaspera, apavora. Tem sido noites complicadas.

Esperar um dia, talvez, quem sabe. Um coração, tornado frio, amargurado, encontre paz bem longe dessa aspereza, dessa mágoa, dessa tristeza. Tu me tornaste assim, e eu não sei mais me encontrar. Procurei nas imagens, nas memórias, nas palavras. Só sobrou isso de mim. E talvez exista um “talvez”, de um olhar, um toque, que tranquilize e traga a doçura e o amor que eu sabia sentir, meu jeito doce de saber ser. Eu não sei mais.

Eu deixei acreditar. Vou deixar pra lá, apesar da minha dor me sufocar todas as noites. Deus sabe quem eu sou. E talvez ele até tenha algo bom pra mim.

Existe hora exata pra quê? A hora só passa. Ficar esperando não faz acontecer, o passar das horas não faz milagre. Levanta e agüenta. Se você sangrar, seu organismo trata de estancar. Não existe hora exata, nem melhor momento. Toda hora é hora. Se você faz ou não, é uma escolha sua. O tempo só passa. E ele passa tão rápido.

domingo, 18 de agosto de 2013

Escritos

Eu apaguei a última coisa que tinha escrito. Nem sei se fazia algum sentido. Talvez. Mas não está disponível para ser lido. Quase escorreguei escrevendo algo sobre mim, e antes que fosse tarde, ou melhor, lido, eu apaguei. Mas ficou a dúvida: o que eu faço com isso que eu não escrevi? Eu vou seguindo e deixando pra lá?

Nesse momento, dentro de mim não é um bom lugar para se estar. Se fosse possível, eu faria alguma espécie de troca de corpo, temporariamente, até tudo ficar mais sossegado. Sem eu precisar ficar me pegando e me traindo com essas memórias. Coisa forte essa, pareço estar numa guerra de inconstância.

Ser forte exige tanto. Ser forte dói, caramba. Tenho que ser forte sempre? Não quero. É muita carga. Eu sou só uma pessoa que quer se sentir leve de vez em quando. Eu quero fazer um acordo: tento ser forte às vezes, mas você tem que me prometer, que vez ou outra, eu posso apenas ser humana. Deixa fluir, poxa.

Na vida, há coisas tão bonitas. Então porque raios eu não consigo tocar uma dessas coisas bonitas? Eu devia brigar e exigir isso, porque afinal, eu tenho tanta sensibilidade em mim, que mereço coisas bonitas. O problema de ser sensível é que quando você se arranha dói como navalha e parece não existir outra alma tão sensível quanto a sua. Existe? Será? Você está me lendo? Oi, eu estou aqui!

A noite fica tão pequena quando a possibilidade, tão forte pela manhã, foi ficando pequenina com o passar do dia. A gente espera algo especial, mas só passa e pronto. A noite se exprime tanto que me sinto respirar pela metade. E depois de um dia inteiro de sorriso fingindo, à noite, quando me encontro de verdade, eu me sinto um caco.

Você está bem? / (Você não se importa realmente em saber!). Eu estou. / Que bom. / É. (E você luta em segredo, com cada traço da sua face e com cada movimento dos seus olhos e das suas mãos. A verdade é que, almas de verdade não precisariam fazer a primeira pergunta). / Então tá bom. / Tá. / Tchau. / Tchau.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Sentir

Sinto em mim que há tanto o que dizer. Mas a palavra enrola, fica presa em algum tipo de pensamento fora de mim que não deixa a frase se completar. O impulso, a intuição, estes estão tão longe. Não sei como me sentir assim, tão próxima dessas coisas que habitam nosso ser e nos levam à vida, que nos empurram ou nos dão carona até a estrada. É uma sensação que não sabe falar, ela só sabe doer. Estou um tanto desconhecida.

O desamparo maior é o de não conseguir lidar com sua própria alma, com sua própria dor.

Eu tenho tanta impaciência com a lentidão dos acontecimentos. A mão já trêmula de tanto segurar o pensamento, que pesa como se o seu volume abrangesse todo o mundo. Não me peça pra esperar, eu tenho tantas vidas pra viver. Movimento. Vamos! Eu quero renascer, em mim, agora!

Hoje é uma daquelas noites perigosas. Ela se contrai pelos ossos. Eu não estou sendo. E é só isso que posso dizer.

Estou sentada e não posso abaixar meu pé direito. Não agora. Pois sinto que nele grudei a esperança. Também escrevi um bilhetinho e irei entregá-lo pessoalmente ao calor, farei com que o acolha e o leve pela força do vento. Eu sei que a esperança é algo muito abstrato e ela não se encaixa realmente na corrente real que empurra a vida. Mas eu vou me absorver de intensidade e me acalentar com essa tal possibilidade.

To com vontade de fechar os olhos e inventar cada pedacinho do ar se movimentando com o balanço do meu corpo. Contar cada fio de cabelo bagunçado, eternizando cada segundo do frio percorrendo pela minha pele. E de mentira, transformo a ausência em presença. É uma relação inventada tão bonita.

Todos os dias, quando vou dormir à noite, eu confio que o mundo vai ficar bem. Eu tento. Estou tentando. Não me deixe morrer.

Eu não estou disponível agora. Você pode me deixar por um momento? Você insiste. Canto para não ter que te sentir.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Insistência

Tenho te sonhado tanto, te desejado tanto. Ah te querer me faz estar tão perto de mim e tão longe de todas as coisas descontentes do mundo. Querer-te me deixa sóbria e leve, lúcida de mim mesma. Faz querer transparecer toda a minha essência. E eu deixo, se você deixar. Mas você não deixa. A vida não deixa.

Preciso fazer um ritual, daqueles que a gente tira todas as cargas pesadas. Queimar algumas coisas, organizar as gavetas e pensamentos. Abrir espaço. Eu já volto.

Pronto. Voltei. Tudo virou cinza. Menos o pensamento, esse ainda não. Ainda.

Já ouvi algumas pessoas dizerem que sou misteriosa. Eu me lembro de quando criança me sentir misteriosa, cheia de mim, vivendo no meu próprio mundo. Eu imaginava e criava tudo aquilo, fazia parte do meu ser, escorregar pela estrada dos pensamentos. O que me queriam eu não podia ser, porque dentro de mim brotava tanto mistério que nem eu mesma me conhecia e o real era tão chato, não fazia parte de mim. Mas ser misteriosa me causava tanto frio na barriga que me fazia sentir importante. Pra quem? Pra ninguém, ou talvez, só na minha imaginação. Hoje eu não sei o que eu sou realmente, acho que me perdi de mim. E por estar perdida, posso parecer misteriosa. Eu só não entendo, toda essa sensibilidade que se acumula em mim. Eu não a quero, mas ela se subtrai tanto em minha alma, que às vezes me sinto obrigada a descrevê-la.

To saindo da mediocridade que conheço e entrando no desconhecido. Seja o que for. Eu vou agüentar firme.

Preciso aprender a viver de um modo menos angustiante. Se ao menos existisse alguém para compartilhar minha angústia, para conversar, para abraçar. Mas estou sozinha, eu e a noite.

Aliviou, por esta noite. Percorre meu corpo, invade a minha alma, sem me deixar absorver por estados que calejam. Eu vou dormir, porque dormir me alivia. Eu gosto mais da noite, de todo seu mistério e dos seus suspiros, mas nada como acordar
de manhã, abrir a janela e sentir a vida mais leve. Eu também te quero, te sinto, te vivo, meu bem.



Por que as pessoas insistem tanto que eu me apegue a Deus como se elas soubessem o que é melhor pra mim? Vocês não sabem. E quem disse que não creio em Deus? Talvez o melhor pra você seja apanhar, eu não sei e o melhor pra mim seja algo que você não sabe. Não sabe, entendeu?

Eu vou fechar a janela e abraçar meus joelhos. Está tarde. Eu não quero mais te sentir. 

Não é surpresa pra mim. Eu já sabia. A aflição e o perigo. Eu já te disse, você sabe. E a estaca se finca em minha alma. Lembre-se, te peço! É bem aqui, bem no meu íntimo, é onde estarei, de verdade.

Eu vi o que de repente se passava dentro da minha alma. Eu estava tentando. Eu ainda estou tentando. Cada pedaço de mim está tentando. Eu vou sentar na janela e observar a noite, deixar ela falar ao meu ouvido, conversar baixinho e quem sabe ela toque o meu coração, sem me deixar chorar de mansinho.

Hoje as coisas deveriam germinar. Não? Vou ali então plantar novas sementes.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Sentir demais

Toda a minha inspiração se foi quando eu parei de entender tudo aquilo que eu sentia, ou tudo que eu sinto. 

Eu sinto tanto, tanto que nem sei como dizer, o que dizer, tanto sentimento que se inunda e se amarra a minha alma. Meus sentimentos não sabem mais falar, se expressar, mover pedacinhos de palavras, gastar papéis e tintas, preencher paredes e páginas em branco. Eu não sei o que fazer com o que eu sinto, mas sei o que cada essência de sentimento deseja.

Eis me aqui, sozinha como sempre foi. Uma dor que dói. Eu e a minha noite, minha única companhia, tão silenciosa, tão dolorida. Eu sei do que sinto falta, o que me dói é essa solidão, que sufoca, que desespera, que angustia. Eu já to cansada de você. Não quero mais ter que te escrever.

Eu já te falei de mim? Não. Tudo isso pode parecer que sou eu, mas não é. Só tenho falado dessas coisas que espetam o coração e alma. Sinto que estou longe de ser tudo isso, sinto que não tive oportunidade de te deixar me conhecer. Eu sei, você não me vê. São só sentimentos. Isso não sou eu.

Hoje eu me sinto livre, mas é uma liberdade ainda cheia de feridas, dessas coisas que fazem parecer que o nosso peito carrega uns mil quilos a mais. Mas é um início. Então, não quero esperar, já posso te amar agora?

Tenho em mim uma imagem que não me deixa entender o “por que nenhuma chance?”.

domingo, 7 de julho de 2013

Inconstâncias

Dispenso toda a minha atenção a uma eterna busca de não sei o quê. Um nada que se resume em tudo aquilo que me tornei, que fracassa com o que toca. Sou apenas aquilo que não consegui. Uma eterna distância entre eu e o mundo. Entre eu e você. Mas, se olha no espelho. Sai dessa. Larga tudo aí. E agora, já posso fugir? Já posso fugir com você?

Minhas idealizações têm se tornado tão freqüentes em meu pensamento. Eu planejo e planejo, uma fuga, sem rastros, lembranças ou marcas. De novo e de novo e de novo. Eu faria mil vezes.


Têm faltado pedacinhos de mim em cada palavra não dita. O mundo ainda grita aqui dentro. A solidão se faz mais forte a cada gota de chuva que cai lá fora, a cada pôr-do-sol a escurecer a minha alma. Ta na hora de sair, colocar a minha máscara do dia, um sorriso forçado. Eu me sinto você, Justine.


Eu tive um sonho hoje, nele eu tinha objetivos de chegar a um lugar. Mas eu não chegava, eu caminhava, seguia pelos caminhos errados e nunca chegava. O tempo se esgotava, a angústia aumentava e eu não conseguia. Errava os caminhos, as curvas, as esquinas. A angústia sufocava. Não havia mais tempo. Eu acordei e fiquei em dúvida. Meu sonho é extensão da realidade ou a realidade é extensão do meu sonho?

Minha coragem não reside em fazer uma escolha, tomar uma decisão. Minha coragem reside no depois, a partir do momento em que tenho que arcar com todas as dificuldades derivadas da minha escolha. Dificuldade sim, porque escolhas exigem renúncia, mas também te trazem leveza e bons frutos quando você sente e percebe que é capaz de superar.

Juro que estarei pronta. Juro que conseguirei. Você confia em mim? Eu confio, você consegue, eu seguro sua mão.

Eu te desejo, não me ignore. Eu te quero, não me ignore. Eu estou aqui pra te dar tudo que eu tenho. E tudo que eu tenho é uma imensidão de sentimentos dentro de mim. Eu compartilho com você toda a minha ternura. Olha pra mim, não me ignore, pois todos os dias penso em cada traço seu, cada gosto, sinto cada desejo percorrer meu corpo, desejos que desejam se enroscar com os seus. Eu o vejo, te invento, te chamo, te imagino, não posso simplesmente deixar pra lá, porque já tomou conta do meu corpo. Eu te esperei, você é real e agora você está aqui, mas não está comigo. Não me ignore, eu tenho tanto sentimento pra te dar. Agora, eu só respiro fundo, nossas almas estão separadas. Eu espero, todos os dias, por um toque seu. Cada ignorar seu é uma dor a mais em minha alma. Mas eu te espero, de novo e de novo. Eu estou aqui, minha alma se aperta em mim, porque não posso simplesmente deixar pra lá. Eu te desejo e te espero.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Hoje

Não adianta querer se fechar num casulo, a gente vai sempre se decepcionar. Não adianta querer esconder, as coisas sempre se revelam. É preciso perder pra entendermos que vamos superar.

Esperei o dia inteiro, o dia inteirinho, qualquer sopro que viesse da sua voz, da sua não intenção de nada, do seu nem ligar. Eu esperei. E fique só. O mundo inteiro ao meu redor e a solidão me comendo vida. Só um sopro, eu só precisava de um. Pela janela, viesse qualquer não intenção que fosse, um pequeno pedaço de não querer. Eu respirei fundo de tamanho pesar que tudo ao redor se encolheu, de tão apertado que ficou o meu mundo.

Amanhã vou ter que sair correndo de novo, tentando ganhar um não sei o quê. A gente sempre espera muito e a gente cai. A gente se levanta de novo, mas fica a dúvida: vou correr pelo quê agora? Me dá algo escrito de vez em quando.

Se eu encontrar de novo o caminho da minha alma, fica tudo acertado. Se fosse realidade, seria suficientemente bom. Cada energia que se movimenta pelo meu corpo deseja profundamente. Posso te sentir correndo fora de mim, intocável, tão longe, tão longe.

Você começa a sentir fome, sede e desejo de outros lugares. Começam a surgir as urgências cada vez mais urgentes, mais quentes, mais vibrantes, mais intensas. Pensamentos noturnos, tão frágeis, tão desgrenhados de se fazerem urgentes, vivos e presentes amanhã.

Um brinde aos erros e por continuarmos neles. Bobinha, 'tam' na sua cara. Mas algum dia, qualquer hora, eu vou deixar a coragem ser livre e me guiar pra onde for, te apago e não te permito mais. Solidão é se sentir perdido de todas as outras pessoas. Eu te esperei, mas você não veio. Eu vou dormir, é só o que me resta.

Mesmo com tantas topadas, é por você que ainda quero correr de novo e cair e mais uma vez levantar. Ainda, ainda é.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Sentimentos desconexos

Vou acreditar que só tem demorado, mas que virá e chegará com todo o glamour, brilho, exaltação e tudo mais que sabe causar. E quando acontecer, eu vou te abraçar, te dar a mão e colar você em mim pra sempre.

É assim que começa? Não, é assim que termina, é assim que se apaga, é assim que se afastam intermitentemente e para sempre. E jamais se aproximam novamente. Jamais.

Nenhum sentimento resiste a tudo, nem mesmo o amor, nem mesmo o ódio. Tudo é passível de se quebrar, de se dissolver. Quando pedras se movem, jamais voltam ao mesmo lugar. Jamais.

Vou me esvair de qualquer coisa que me prenda, de qualquer sentimento pesado que me carregue. O mundo gira e a vida passa. Se você não a segura, você a perde. Então vem o vazio que incomoda ao se remoer, ao se enlaçar na sua alma. E o mundo não gira mais para trás. Tudo o que passou, ficará eternamente pra trás.

Minha esperança sempre se manterá acesa, mesmo nos dias mais obscuros.

Muitas vezes deixamos de fazer aquilo que realmente queremos por medo de perder, pois nos acostumamos com o que temos, mesmo que não seja suficiente, mesmo que nos faça mal. Mas esquecemos de pensar que é preciso perder pra entendermos que vamos superar, que podemos conseguir algo melhor, que podemos ser felizes.

A gente se enche de princípios e valores que nem sempre são nossos, que nem sempre nos fazem bem. Abafamos aquilo que realmente queremos porque nos vemos no princípio do outro. O julgar do outro cai sobre nós com tanto peso que nos apagamos. Precisamos perceber o que é realmente nosso. Mas às vezes, nem os próprios princípios bastam para se fazer o que é certo.

sábado, 8 de junho de 2013

Abraçar a vida

Vou acreditar que só tem demorado, mas que virá e chegará com todo o glamour, brilho, exaltação e tudo mais que sabe causar. E quando acontecer, eu vou te abraçar, te dar a mão e colar você em mim pra sempre.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

“O Tempo não cura tudo”



“O tempo não apaga tudo, alguns instantes permanecem intactos na memória, sem que se saiba por que uns e não outros. Talvez sejam confidências sutis que a vida nos fornece, em silêncio.”



Freqüentemente tenho escutado frases como "dê tempo ao tempo" ou "o tempo cura tudo", frases ditas quando não se está disposto a encarar o desafio de vencer a si mesmo. Frases ditas por um amigo que não está disponível para escutá-lo de verdade. E muitas vezes, é assim que encaramos, deixamos que o “tempo magicamente resolva”. Mas o tempo passa e ele não resolve.
Depois de um tempo, você percebe que as feridas, as falhas, as mágoas, as angústias continuam lá, em sua mente, repetindo como em um filme, às vezes vagarosamente e um pouco embaçado, e às vezes forte e nítido como se estivesse vivendo novamente. E de fato está, pois revivemos os fatos no pensamento cotidianamente, nunca da mesma forma, sempre com um detalhe novo, uma vida ou alegria nova ou uma ferida que dilacera sua alma e seu peito como se fosse morrer.
Nesses momentos, desejamos morrer de verdade, mas não uma morte real, mas uma morte virtual, aquela que mata somente a nossa dor, que nos faz reviver, que te faz magicamente renascer pra uma nova vida, com a ilusão de que a angústia tenha ido e nunca mais volte.
Mas ela volta, enquanto não a encararmos, enquanto não a enfrentarmos com todas as nossas forças e vontade, ela irá voltar, como um fantasma que assombra os pensamentos quando se está sozinho. Não reconhecemos que esse tempo que achamos ser a chave da cura dos nossos problemas, é um tempo valioso, que desperdiçamos esperando e esperando.
Não faz sentido? Façamos o teste, lembre-se de sua vida há dez anos, relembre tudo àquilo que desejava que mudasse. Mudou? Então ótimo! Você é um vencedor que conseguiu lidar com suas maiores adversidades. Se não mudou, você é só mais um sentado na cadeira do destino, adiando e adiando, e você não está sozinho, existem milhares ao seu lado.
Precisamos resolver dentro de si aquilo que é mais assustador, sem “empurrar pra debaixo do tapete”, sem deixar que o tempo resolva (pois ele não resolve, quem resolve é você). Precisamos encarar nossas sombras, reconhecer nossos anseios e dificuldades. Pode-se até fingir, mas estará em nosso inconsciente, espreitando, sussurrando como se tivéssemos uma grande culpa, transmitindo significados manifestos e encobertos. E é preciso ser resolvido tão logo quanto possamos, antes que se enraíze, antes que percorra as nossas veias, antes que adoeça nosso corpo (pois é nele que se manifestam nossas emoções), antes que cheguem o arrependimento e a morte.