quarta-feira, 29 de maio de 2013

“O Tempo não cura tudo”



“O tempo não apaga tudo, alguns instantes permanecem intactos na memória, sem que se saiba por que uns e não outros. Talvez sejam confidências sutis que a vida nos fornece, em silêncio.”



Freqüentemente tenho escutado frases como "dê tempo ao tempo" ou "o tempo cura tudo", frases ditas quando não se está disposto a encarar o desafio de vencer a si mesmo. Frases ditas por um amigo que não está disponível para escutá-lo de verdade. E muitas vezes, é assim que encaramos, deixamos que o “tempo magicamente resolva”. Mas o tempo passa e ele não resolve.
Depois de um tempo, você percebe que as feridas, as falhas, as mágoas, as angústias continuam lá, em sua mente, repetindo como em um filme, às vezes vagarosamente e um pouco embaçado, e às vezes forte e nítido como se estivesse vivendo novamente. E de fato está, pois revivemos os fatos no pensamento cotidianamente, nunca da mesma forma, sempre com um detalhe novo, uma vida ou alegria nova ou uma ferida que dilacera sua alma e seu peito como se fosse morrer.
Nesses momentos, desejamos morrer de verdade, mas não uma morte real, mas uma morte virtual, aquela que mata somente a nossa dor, que nos faz reviver, que te faz magicamente renascer pra uma nova vida, com a ilusão de que a angústia tenha ido e nunca mais volte.
Mas ela volta, enquanto não a encararmos, enquanto não a enfrentarmos com todas as nossas forças e vontade, ela irá voltar, como um fantasma que assombra os pensamentos quando se está sozinho. Não reconhecemos que esse tempo que achamos ser a chave da cura dos nossos problemas, é um tempo valioso, que desperdiçamos esperando e esperando.
Não faz sentido? Façamos o teste, lembre-se de sua vida há dez anos, relembre tudo àquilo que desejava que mudasse. Mudou? Então ótimo! Você é um vencedor que conseguiu lidar com suas maiores adversidades. Se não mudou, você é só mais um sentado na cadeira do destino, adiando e adiando, e você não está sozinho, existem milhares ao seu lado.
Precisamos resolver dentro de si aquilo que é mais assustador, sem “empurrar pra debaixo do tapete”, sem deixar que o tempo resolva (pois ele não resolve, quem resolve é você). Precisamos encarar nossas sombras, reconhecer nossos anseios e dificuldades. Pode-se até fingir, mas estará em nosso inconsciente, espreitando, sussurrando como se tivéssemos uma grande culpa, transmitindo significados manifestos e encobertos. E é preciso ser resolvido tão logo quanto possamos, antes que se enraíze, antes que percorra as nossas veias, antes que adoeça nosso corpo (pois é nele que se manifestam nossas emoções), antes que cheguem o arrependimento e a morte.


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