quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Equilibrar-se

Precisamos largar a solidão acompanhada, parar de fingir o que pensamos ter e encarar a solidão de fato, encarar a si mesmo. É preciso ouvi-la, senti-la, compreender o que ela tanto tenta nos dizer sobre nós mesmos. Entender seu significado, sua representação, a simbologia que lhe contorna tão cuidadosamente.

A solidão é um espinho que cutuca a alma para fazer sangrar até curar a ferida. É preciso deixá-la falar para que entremos em contato com as obscuridades do nosso Ser e assim possamos utilizar nossa escuridão como força para nos libertarmos. Pois acredite, nossa sombra não é nossa inimiga, mas fazemos dela como tal. Ela é nossa aliada, a mais forte e mais importante para darmos passos livres.

A negação, a raiva, a revolta, a depressão, tudo isso pode nos cegar quando vendamos nossos olhos. Não percebemos que nos aprisionamos as nossas próprias emoções e criações. Aprisionamos-nos dentro do nosso próprio espelho, que nos mostra uma imagem inversa e estranha. Alimentamos a pequena sombra que nos habita, tornando-a um universo com vida própria. Uma vida que te deteriora se você não pará-la a tempo.

Equilibrar-se em uma linha trêmula não é fácil, se fosse, a maioria não se acomodaria. Equilibra-se é uma tarefa difícil e árdua. Mas mais importante do que o caminho que irá trilhar é reconhecer seus próprios monstros, reconhecer como você se coloca no mundo, como se relaciona consigo e com o outro. É a tarefa primordial a se fazer. O primeiro passo a ser dado.

Perceber que a maioria dos monstros são criações suas e mesmo aquilo que é imposto pelo outro, a quem você culpa veementemente como fuga de si mesmo, ainda assim, você tem autonomia para mudar. Você tem autonomia para guiar a sua alma. Basta reconhecer que pode ser uma escolha sua.

Temos autonomia para a mudança. Temos autonomia para escolher se queremos viver com aquilo que nos foi dado ou se queremos desejar, experimentar, fazer, mudar, construir concepções nossas, expandir nosso Ser. Encontrar quem somos de verdade. Encarar a vida e o mundo com leveza. Isto é espiritualidade. É leveza.

Leveza é fazer escolhas sem culpar o mundo, é permitir-se aos seus desejos e sonhos sem culpa ou transtorno. É ter coragem de abandonar os pesos e assumir que estes pesos foram escolhas suas, ainda que o mundo, as pessoas e até você mesmo façam você acreditar que não havia outra escolha ou alternativa.

Leveza é assumir quem você é. De verdade. E não aquilo que você pensa ser. Acredite, existe uma real e grande diferença entre aquilo que você é e aquilo que você acha que é. Sabia ter um olhar simples ao buscar essa diferença. Saiba compreender e aceitar, que lhe pertence e que lhe torna um Ser único no mundo.

Quem você é agora? Em meio a tantos outros que se misturaram a você e que você se deixou misturar. Quais seus gostos? Suas vontades? Quem é você de verdade? Quem é o rosto que se esconde atrás de máscaras e roupas pesadas? Quem é o rosto atrás do espelho?

Você só saberá quando se despir de todos os pesos, mentiras e máscaras, e encontrar-se desnudo de qualquer mediocridade. Quando compreender de fato seus erros e acertos, suas luzes e sombras. Quando alcançar ao menos um pouco de resiliência.

Se você alcançou a sua espiritualidade. Celebre. Você está vivo de verdade.





[Anne Leal]

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