sábado, 12 de julho de 2014

O início - Infância

Na infância o vento significa pureza e os dias de chuva, aconchego e esperança. Esta última é a grande mãe de todos os sentimentos infantis. Esperança de uma vida melhor, de um mundo melhor, de realizar todos os sonhos, de ser alguém – um super herói - que mudará o mundo ou se não a própria vida, de crescer e ser feliz.

Ser criança é a mais pura beleza que a vida encarna, ingênua e livre de mesquinhez. Absorta em amor real, contemplativa de paz de espírito, ensimesmada com um mundo irreal, construído com tijolos de sonhos. Estes, destruídos com o crescer, se perdem no passado. Infelizmente, o corpo cresce e a alma diminui. O mundo fica menor e o coração também.

Raros são aqueles que ainda carregam dentro de si a joia esculpida por sua própria criança, que ainda lembram do significado de ser, ser qualquer coisa, apenas ser na vida. Que ainda carregam dentro de si aquele pequeno ser que construía vidas dentro do seu próprio mundo e as acolhia em seu pequeno coração. Pessoas raras que ainda caminham pelas ruas, perdidas, procurando almas como as dela.

Quando se é criança, a maior preciosidade é criar sonhos. Tirar isso de uma criança é tirar a vida. Àquelas que não dormem à noite, acobertadas por toques frios, são pequenos seres acuados pela marginalidade do mundo adulto, que late vorazmente contra a inocência, destruindo e derrubando cada gotinha do que havia de mais puro na alma. É uma vida roubada, arrancada à força daqueles que só queriam um pequeno espaço para colorir o mundo.

Ser criança é alegrar-se com um singelo sorriso, ou um simples brigadeiro. Ansiar pelas brincadeiras inventadas, construídas com simplicidade e imaginação. Cadeiras e lençóis transformam-se em castelos, decorados com estrelas e o maior perigo é lutar contra o vilão imaginário. Mas o vilão real, é o mundo adulto, que fica à espreita, esperando o passar do tempo para roubar a ingenuidade.





[Suzanne Leal]

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